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Pandemia como solução urbana

A pandemia tem trazido a todos, além da preocupação com a saúde pública e a crise econômica, uma reflexão sobre os benefícios do home office, como um descanso de enfrentar o deslocamento entre casa e trabalho, ou, nos surpreendido sem trabalho. Essas transformações como consequência da pandemia, nos forçou a uma reflexão sobre como estávamos vivendo e como vamos viver daqui por diante.

Tais reflexões, vão desde como estávamos esquecendo nossos familiares e amigos, o cuidado com a nossa saúde, a educação de nossos filhos e, principalmente, como estávamos cuidando de nosso planeta. Questionamentos que nos fez reconhecer que esse estilo de vida pode ser autodestrutivo, que transformou a forma de vida e trabalho, nosso cotidiano, marcado pela alta velocidade dos meios de comunicação, o consumo excessivo e as interações superficiais das redes sociais.

A impressão é que a sociedade esteve perdida e indiferente, deixando que o modo de viver contemporâneo as tornasse insensível. A relevância social comandada pelo poder de consumo parece ter nos cegado e não nos permitiu enxergar a real importância dos valores essenciais da vida em sociedade.

Os esperançosos imaginam um mundo melhor após a pandemia, generoso, solidário, menos preconceituoso e menos consumista. Em contrapartida, os pessimistas acreditam que o trauma do contágio poderá intensificar o individualismo e o preconceito, agravando as desigualdades e as tensões sociais.

Contudo, apesar da angústia e a ansiedade do confinamento que projeta um futuro incerto, acredito que temos que focar nas mudanças que já estão acontecendo, sem as especulações. Tenho visto ensinamentos importantes para possíveis mudanças que já estão acontecendo.

Soluções Urbanas

No campo do urbanismo, antes mesmo da pandemia, planejadores e urbanistas buscavam saídas para o caos das grandes cidades. Concentração demográfica, trânsito caótico, incapacidade dos transportes públicos, problemas ambientais, poluição e o aumento de problemas psicológicos na população devido ao estresse causado pelo deslocamento excessivo nas metrópoles.

Nesse atual momento de isolamento social, o trabalho remoto para alguns setores tem nos mostrado que muitos dos nossos deslocamentos não são necessários. A concentração de trabalhadores em escritórios ou em lojas comerciais tornaram-se dispensáveis, pois a produtividade e a colaboração entre os funcionários também pode ser qualificada de maneira virtual.

Diante dessa comprovação, as empresas pretendem focar cada vez mais na qualidade de vida de seus funcionários, facilitando a rotina, diminuindo o tempo no transporte público, e aumentando as possibilidades de lazer, e os convívios sociais e familiares. Além de diminuir os custos e, consequentemente, aumentar os lucros. Afinal, as finanças ditam as regras das grandes mudanças.

Para as empresas expandirem, a solução seria a redução de custos, ainda mais com os governos adotando incentivos fiscais, e a diminuição dos impostos para as empresas que mantiverem o home-office.

Em 2003, reforço agora em 2020, defendi um cenário com menor deslocamento, que seria relevante a ampliação do tempo de lazer em espaços públicos para incentivar a interação entre pessoas. Medidas que naturalmente provocariam a necessidade de socialização e busca por qualidade de vida fora de casa, resultando assim na ocupação dos espaços públicos como um aumento da residência.

As casas também passam a ter relevância ainda maior, deixam de ser apenas local de descanso, mas também ambiente de trabalho, surgindo assim a necessidade de transformações, aliando o conforto e criatividade nessa nova realidade de vida compartilhada, entre trabalho e família.

Essas mudanças ocorrem de maneira uniforme, independente da classe social, visto que as regiões mais pobres que são carentes por espaços de lazer e interação. Gestores públicos deverão priorizar os investimentos para motivar os comércios locais, tornando a vida no bairro mais efetiva, e trazendo o resgate da vida cotidiana junto com as avançadas tecnologias.

Com isso, neste cenário, penso nos espaços públicos como grandes protagonistas da vida em comunidade, como solução urbanística das conexões cotidianas. Será possível resgatar a ideia das cidades jardins, de bairros com grandes parques, praças e áreas de lazer e esportes, entre os comércios e os serviços locais. Acredito que muitas avenidas poderão se transformar em corredores verdes, onde a vida acontecerá, na junção entre um bom modo de viver e o crescimento das tecnologias.

Ernani Maia é graduado e pós graduado pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Mestre pela Universidade Mackenzie. Destaca-se por diversas pesquisas e artigos acadêmicos nas áreas de Arquitetura e Urbanismo, sobretudo analisando os impactos das novas tecnologias telemáticas e dos conceitos de sustentabilidade nos modos de espacialização da sociedade contemporânea. Professor Universitário dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Design em várias instituições de ensino e atualmente no curso de pós graduação do IED (Instituto Europeo di Design- São Paulo). Fundador da InCAD Instituto de Capacitação em Arquitetura e Design.
Atua desde 1991 na concepção de projetos de arquitetura, compatibilização, gerenciamento e coordenação de interfaces multidisciplinares.

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